Tudo começou assim: Já passam das seis horas do dia
vinte e quatro de Dezembro, num espaço compreendido entre o finalzinho de tarde
e a entradinha da noite! Os postes começam a arder suas luzes artificiais,
simulando um espetáculo de autos brilhos! A noite promete ser quente, devido
tempo que se faz mormacento! As ruas estão um caos, lotadas de gentes
apressadas, carregadas de suas inúmeras sacolas e pacotes coloridos!
Às sete, um
menino andarilho atravessa o betume do asfalto vizinho! Traz pelas mãos
calosas, uma espécie de saco de dois fundos, usado como tipo de bolsa para
mendicantes! Os pés não se aguentam de tantos calos, cujas chinelas velhas é
que fazem o trabalho pesado!
Sobre o rosto
perebento, esconde as marcas da sofreguidão, cuja roupa lhe evidencia a
sujeirada física, quanto, também, as suas manchas e seus borrões! Mesmo assim,
não pára seu trajeto, movendo-se de lá pra cá em ritmo acelerado, sendo
insistente e bastante preciso nas suas convicções!
Após um período
de espera, durante uns sessenta minutos mais ou menos, precisamente às oito da
noite, sai o menino atropelando quem se vê pelo caminho! Tem urgência de
comparar os adornos natalinos das residências coloniais, atento as vidraças
frágeis e as cortinas transparentes!
No interior das casas, avistam-se pais, mães e
um bando de jovenzinhos salientes, às vésperas de mais um nascimento de Jesus!
Lá dentro, se há
momentos harmônicos, de paz, confraternizações e regozijos; enquanto, lá fora,
a cena é outra, de muita tristeza, ao ver um menino pobrezinho e raquítico à
espera de sua bola de couro ultra lV, seu skate red nose e seu par de tênis all
star!
No decorrer das
nove horas, crianças saem anestesiadíssimas de suas moradias, deixando para
trás seus parentes ao som de grandes hinos! O menino logo os enxerga, comovidíssimo,
quando conjuntam olhares perdidos para o céu estrelado! O que buscam do alto, o
buscam com adesão e adrenalina, ansiosos pela aparição de alguma rena
encantada, ou mesmo, de um velho de barbas brancas, cabelos de neve, roupas
vermelhas e botas desengonçadas!
Atento neles, o
menino então sacode o pó de suas chinelas velhas, voltando o olhar na direção
das chaminés! "Será que papai
Noel existe mesmo?" Pergunta para si mesmo!
Logo,
precisamente às dez da noite, uma lâmpada tubular faz passar pelo fio condutor
a sua corrente elétrica, revestindo as lampadazinhas e suas cascatas pintadas
de cores vivas! O cenário é encantador, magnífico e apaixonante; lembrando que
o natal tem a função de tornar o ambiente autêntico, consagrado e mais gostoso!
Chegando às onze
horas, as mesas já estão postas e fartas, repletas de coisas saborosas e
gostosas! Acompanhados aos pratos, talheres e guardanapos, estão, pelo menos,
três tipos de carne assada: "Perus ao molho espesso, chesters ao molho
tinto e pernis com especiarias!
Os arrozes de
forno vêm por último, coligados aos tutus a moda antiga, as farofas cook
delights e as variadas frutas secas! Também não podiam faltar as bebidas
geladas, aromáticas ou quentes, e os copos e taças transparentes!
O menino pobre,
já aflito, olha para os ponteiros do relógio mais próximo: Está prestes a tocar
as doze badaladas! Então ele corre, corre muito, totalmente desesperado, na
ânsia de buscar o seu tão desejado presente! No rosto, traz expressões
afoitantes, acompanhadas por uma dificuldade imensa de respirar!
No momento em
que corre, o céu fica piscando e se abre rapidamente, ardido pelos shows
pirotécnicos e pelas labaredas dos foguetórios! São vistas dezenas de pessoas
se abraçando, tantos brindes, tantas alegrias e tantas confraternizações;
ficando difícil, para um menino de onze anos, vir fazer parte de tais
cordialidades e comemorações!
Do mesmo modo,
voltando a olhar de esguelha, fatalmente encontra os seus presentes, centenas
deles, esparramados em poltronas, tapetes, jardins, ruas e avenidas! São
dezenas de crianças brincando com suas bolas de couro ultra lV, seus skates red
noses e calçando seus tênis all stars!
Desde as doze da
noite até às quatro da matina, as horas disparam violentamente: uma, duas,
três, quatro, e nada do seu presente chegar! "O Natal realmente não existe! Bando de mentirosos mal
intencionados!" Conclui com seus próprios botões.
Todavia,
frustradíssimo, finalmente priva-se daquilo que esperava com tanto ardor;
tirando de si o gozo que sentia pelo natal!
Assim, volta
angustiado e abatido para casa! Uma casa humilde e sem conforto, afixada numa
ruinha torta e desbarrancada!
Sua barriga
fabrica bolhas, tendo pressa de chegar antes do galo cantar! Além de que, seus
pais devem de estar lhe esperando, para juntos deslancharem a tão esperada e
grandiosa ceia de Natal: Um prato de arroz com feijão frio, e uma fatia de ovo
frito!
Dias se passam,
assim como semanas, meses e estações! Quanto ao menino, continua desesperado,
realizando seu trabalho bruto e suas tarefas humilhadas do cotidiano!
Porém, aconteceu
que, o menino, finalmente, viera descobrir o valor de seu Natal num dia em que
não estava esperando; num tempo onde as ruas encontravam-se quietas,
desabitadas e sem enfeites natalinos!
Nesse dia, bem
distante da próxima data natalina, as pessoas estavam sem paz, sem harmonias e
sem educações, voltadas no seu mundinho único, isolado e cheio de complicações!
E tudo terminou assim: Era às vésperas
de um tempo difícil! Nesse dia, o céu não está grandemente limpo e as calçadas
encontram-se tão porcas!
O menino,
revirando os lixos domésticos, longinquamente, avista outro menino! Suas idades
parecem igualadas, do contrário, são suas vestimentas: A de um, estão sujas e
rasgadas, e a do outro, encontram-se aparentemente limpas e apuradas!
O menino, de
vista nobre, traz pelas mãos uma caixa plana, mediana e com ângulos retos! A
intenção é de atirá-la para a lixeira, devido a pouca utilidade e pouca
serventia!
Assim, parados
frente a frente, ficam se observando, estabelecendo diferenças e padrões: Um:
pobre, magro, sujo e desajeitado, enquanto o outro: rico, isento de imundícies
e bem aparentado!
Parecendo fácil,
como de costume, o pouco favorecido inquire ao outro uma pergunta: "Tem alguns recicláveis pra mim?" Ao
que, o outro, rapidamente lhe responde: "Não tenho não! Apenas trago comigo restos de outros natais!”.
Todavia, antes
de jogar a caixa ao lixo, o de condição boa se compadece do de ruim condição,
levado pelo sentimento misericordioso! Assim, gentilmente lhe doa a sua caixa
de papelão! De diferente modo, o menino pobre não lhe agradece, apenas sorri entre
dentes e sai!
Mantido ainda
desanimado pela esperança perdida, continua, então, a garimpar os monturos de
lixo em busca de melhores recicláveis, até o findar do sol e o renascer da lua!
Daí, já agastado pelo trabalho suado, decide assentar-se no meio fio,
intencionado de abrir aquela bendita caixa de papelão!
Abrindo-a, para
sua surpresa, lá está a bola de couro ultra lV, o skate red noses e um par de
tênis all star, sendo apanhados em fragrantes e em perfeitas condições!
“Nossa! Precisavam ver o feitio de seu rosto
claro, brilhante e espairecido! Jamais se igualará felicidade maior do que a
desse dia qualquer!”
O menino havia
se engasgado pela euforia! Assim, impulsiona o corpo do chão a procura de sua
própria altura, como num salto! Por consequência, calça seu tênis all star,
jogando fora as chinelas velhas; cinge com os braços a sua bola de couro ultra
lV e, seguidamente, trepa no seu skate red noses, seguindo feliz caminho a
fora!
Para esse menino
tão desajeitado, triste e desesperançado, esse dia tão corriqueiro e dado como
um dia comum, assinalará o seu melhor dia de Natal! Um Natal inspirado pelas
graças, bondade e pelo grande amor de Cristo, que não esquecera, em nenhum
momento, de suas preces e de sua miserável condição!
Além de que, o
Natal não ilustra indicatórios de tempos, meses e anos; e nem a paz, alegria,
amor e fraternidade poderão ser anulados fora de uma data específica, ou mesmo,
de um tempo criado em cima de regras, doutrinas e exceções!
O que podemos
realmente concluir é que o Natal não rejuvenesce apenas no dia 25 de dezembro!
Ele simplesmente acontece, manifesta-se e revela-se inesperadamente em épocas
não determinadas pelo homem! Lembrando que Deus não sobre-existe numa
simbologia inventada sob formas prescritas ou datas comemorativas!
Verdadeiramente, Ele,
sendo o criador da humanidade, se faz onipresente, onisciente e onipotente,
enquanto nós, como criaturas, somos feitos à Sua Semelhança! Assim, como
ovelhas de seu aprisco, devemos respeitar o Natal, vivenciando-o um dia de cada
vez!Gláucia Cardoso
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