"Na verdade, o que buscamos em nós, se todas essas coisas, prazer, contentamento, jovialidade, deleite, carnalidade e prosperidade, em parte, tem-nos vigorado? O que leva-nos ao desânimo, a tristeza, a mágoa, a inquietude, a impaciência, ao vazio e ao desespero, se nos fartamos de glórias, de bens, de consumos, de exuberâncias e de prazeres? Acaso, deveríamos nos orgulhar daquilo que, parcialmente, tem nos preenchido? Continuaremos sendo donos da verdade, senhorios da soberba, gananciosos ou poderosíssimos, seguindo leis, estatutos, instruções e indisciplinas próprias? O que temos crido, em quem acreditamos e por que continuamos sendo fiéis à nossa própria imagem? Quem imputar-nos-á culpa alguma mediante nossa apta verdade, a não ser a nossa própria condenação? Quem aumentará um centímetro que seja de sua vida, senão Aquele a quem a concebera originalmente pelas mãos? Será possível construirmos um mundo menos robótico, não somado à criaturas tensas, ocas, donas da verdade, instrutoras de mestres, temperamentais, irracionais e sem qualquer perdão? Para nossa vergonha, deixo aqui este meu paradoxo!!"
Gláucia Cardoso
